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A vantagem populista

CHICAGO – Mesmo nos melhores momentos, os decisores políticos têm dificuldade em explicar conceitos complexos ao público. Mas quando têm a confiança do público, o cidadão normal dirá “sei genericamente o que estão a tentar fazer, e por isso não precisam de me explicar todos os detalhes”. Era o que acontecia em muitas economias avançadas antes da crise financeira global, quando havia um maior consenso quanto ao rumo da política económica. Enquanto os Estados Unidos davam mais ênfase à desregulamentação, à abertura e à expansão comercial, a União Europeia preocupava-se mais com a integração de mercados. Genericamente, porém, prevalecia a ortodoxia liberal (no sentido clássico e britânico do termo).

Este consenso encontrava-se tão disseminado que uma das minhas colegas mais jovens no Fundo Monetário Internacional teve dificuldades em obter uma boa posição académica, apesar de ter um doutoramento do prestigiado departamento de economia do MIT, provavelmente porque o seu trabalho demonstrava que a liberalização comercial abrandara o ritmo da redução da pobreza na Índia rural. Apesar de os trabalhos teóricos que demonstravam que a liberalização do comércio poderia ter tais efeitos adversos serem aceitáveis, os estudos que demonstravam o fenómeno de forma empírica eram encarados com cepticismo.

A crise financeira global abalou tanto o consenso vigente como a confiança do público. Claramente, a ortodoxia liberal não funcionara para todas as pessoas dos EUA. Estudos actualmente aceitáveis demonstraram que os trabalhadores industriais da classe média expostos à concorrência chinesa foram especialmente atingidos. “Obviamente”, segundo a acusação, “as elites legisladoras, cujos amigos e familiares ocupavam empregos protegidos no sector dos serviços, beneficiavam com as importações baratas e não podiam ser consideradas de confiança”. Na Europa, a livre circulação de mercadorias, capitais, serviços e pessoas no mercado único foi encarada como servindo os interesses dos burocratas não eleitos da UE em Bruxelas mais do que os interesses de quaisquer outras pessoas.

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