Getty Images Sebastien Rieussec/AFP/Getty Images

A promessa da telemedicina

ACRA/BASILEIA – Nos países de baixo e médio rendimento, as dificuldades no acesso a cuidados de saúde comprometem os resultados de saúde e prejudicam gerações inteiras. Mas, nalgumas comunidades de mais difícil acesso do mundo, a tecnologia está a revolucionar o envolvimento dos pacientes com a medicina moderna. Num canto remoto do Gana, um programa de “telemedicina” ilustra como os cuidados de saúde digitais podem ser eficazes, quando a sua cobertura é alargada às pessoas com acesso deficiente a cuidados de saúde.

Em 2011, as nossas organizações iniciaram o primeiro programa piloto de telemedicina do Gana, com o propósito de criar um modelo para a expansão nacional. Começando no município de Amansie Ocidental na região de Ashanti, 300 quilómetros (200 milhas) a noroeste da capital, Acra, procurávamos melhorar a qualidade dos cuidados de saúde em áreas isoladas, reduzir o tempo de transporte aos hospitais, e reduzir os custos com pacientes.

O programa, concebido em colaboração com operadores globais de telecomunicações, universidades, e ONG, contemplou inicialmente 30 comunidades rurais, e ligou perto de 35 000 pessoas a profissionais de saúde, através de uma central de atendimento devidamente equipada. Ao ligar estas comunidades a um centro de comunicações, enfermeiros, médicos e especialistas tornaram-se digitalmente disponíveis 24 horas por dia, oferecendo apoio imediato a pacientes e a profissionais comunitários de saúde (PCS).

Hoje, temos o prazer de informar que o programa teve um êxito superior às nossas expectativas mais optimistas. Cinco anos após o lançamento, o número de encaminhamentos de pacientes para clínicas caiu 31% na área-piloto, tendo mais de metade das consultas do programa sido resolvidas por telefone. Cada encaminhamento evitado poupou aos pacientes, em média, 110 cedis ganeses (25 dólares americanos), e a elevada taxa de êxito de casos encerrados reduziu os tempos de espera nas clínicas.

Ouvimos muitos relatos de pacientes cujas vidas foram afectadas por esta inovação da saúde digital; um, em especial, ficou-nos na memória. Não muito depois do início do programa, uma jovem chamada Debora, que se encontrava a ser seguida por uma profissional de saúde local, começou a sangrar incontrolavelmente durante o parto. Incapaz de tratar a sua paciente, e sem acesso a uma ambulância, a profissional de saúde enfrentou uma escolha. Podia enviar Debora por táxi a um hospital distante – uma viagem difícil em estradas precárias – ou podia usar o telefone. Depois de ligar-se ao centro regional de telemedicina, um médico apoiou a cuidadora durante o tratamento de Debora, salvando muito provavelmente a sua vida no decurso do processo.

Estimulado por relatos semelhantes, em 2016 o Serviço de Saúde do Gana começou a expandir o acesso à telemedicina a outras regiões do país. Esse trabalho terminou no mês passado, e hoje estão em funcionamento seis centrais de atendimento operadas por centenas de profissionais de saúde, proporcionando experiência médica acessível a perto de seis milhões de pessoas.

Winter Sale: Save 40% on a new PS subscription
PS_Sales_Winter_1333x1000 AI

Winter Sale: Save 40% on a new PS subscription

At a time of escalating global turmoil, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided.

Subscribe to Digital or Digital Plus now to secure your discount.

Subscribe Now

Com este compromisso, o Gana toma uma posição inequívoca: a telemedicina detém a chave para a expansão da cobertura universal dos cuidados de saúde, um dos principais Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU que o Gana espera cumprir até 2020, dez anos antes da data prevista. Mas, o mais excitante de tudo é que o programa do Gana constitui um modelo para o modo como outros países em desenvolvimento podem expandir o seu próprio acesso aos cuidados de saúde.

Também nos países desenvolvidos a telemedicina está a revolucionar o modo como os pacientes interagem com os profissionais de saúde. Nos Estados Unidos, os cirurgiões ligam-se virtualmente a hospitais para fornecerem aconselhamento durante o tratamento. Na Europa, os médicos ligam-se aos pacientes por telefone e e-mail para fornecerem aconselhamento sobre cuidados de saúde imediatos e continuados. E em toda a África, ONG como os Médicos Sem Fronteiras usam a telemedicina para ligar pacientes de difícil tratamento a especialistas em países distantes.

Em qualquer programa de telemedicina, a colaboração multissectorial é crucial. No Gana, as nossas organizações estabeleceram parcerias com entidades como a Universidade de Columbia, a Millennium Promise Alliance, a Ericsson, e a Airtel, combinando o conhecimento local e internacional da inovação em saúde com a capacidade de assumir riscos financeiros.

Por sua vez, o Serviço de Saúde Ganês, o Ministério da Saúde, a Autoridade Nacional para a Segurança Social, e o Ministério das Comunicações expandiram o programa piloto, e incluíram a telemedicina na estratégia nacional de e-saúde do Ministério da Saúde. Gradualmente, o novo programa poderá expandir-se para além do apoio básico à triagem para proporcionar consultas sobre gestão de doenças, saúde mental, e outros serviços.

Os ganeses deveriam orgulhar-se do programa de telemedicina que construíram. Não é apenas uma das iniciativas de saúde mais completas na região; é também um exemplo do que consegue ser feito através das parcerias para a saúde. Em qualquer país, a prosperidade começa com o acesso a cuidados de saúde de qualidade, e o Gana implementou uma abordagem altamente eficaz para a sua prestação.

https://prosyn.org/PRzPyEEpt