BERLIM – Os ataques terroristas de 13 de Novembro em Paris, que atingiram o coração de França e da Europa como um todo, colocaram a ameaça terrorista que o Estado Islâmico (ISIS) representa no topo da agenda da política externa. Na minha opinião, a resposta a estes ataques não pode ser trancar as portas e colocar taipas nas janelas. Renunciar ao nosso estilo de vida e às nossas sociedades abertas seria ceder às pretensões dos terroristas.
A nossa resposta tem de ser, antes de tudo, política: reforçar a vigilância nos nossos países e uma cooperação mais intensa com as autoridades de segurança dos nossos aliados. O Ocidente deve mostrar determinação na luta contra a exclusão social que alimenta o sentimento de alienação, o que implica intensificar os nossos esforços para integrar os muçulmanos e outros imigrantes a todos os níveis. Ao mesmo tempo, é necessário atacar o mal do ISIS nos locais onde teve início: Iraque e Síria.
Na noite dos ataques de Paris, a Alemanha prometeu a França que permaneceria a seu lado. Decidimos recentemente que a nossa responsabilidade de cumprir esta promessa inclui uma contribuição militar para a luta contra o ISIS.
É evidente que todos sabemos que o terrorismo não pode ser derrotado apenas com bombas. Mas também estamos conscientes de que a ameaça do ISIS não poderá ser vencida sem meios militares e que, a menos que o ISIS seja combatido pela força militar, passado um ano poderá não haver uma base para a construção de uma solução política para a Síria ou para o Iraque.
Recentemente, estive dois dias no Iraque. No ano passado, foi possível expulsar o ISIS de um quarto do território sob o seu controlo neste país. No entanto, ainda temos pela frente as tarefas mais difíceis no que diz respeito a confrontar o ISIS. Três componentes são essenciais para o sucesso da nossa estratégia política.
O primeiro componente é o apoio aos que combatem o ISIS. A decisão que a Alemanha tomou no Verão passado de munir os peshmerga curdos de armas e munições não foi isenta de riscos, mas foi a decisão certa. Em Novembro, também graças ao apoio alemão, os peshmerga libertaram a cidade de Sinjar, onde o ISIS levou a cabo terríveis massacres de yazidis no Verão passado. Não teria sido possível travar o avanço do ISIS sem os ataques aéreos dos Aliados.
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Segundo componente: pela experiência adquirida em conflitos anteriores, sabemos o quanto é importante restabelecer a confiança pública nas zonas libertadas pelo ISIS. É por essa razão que estamos a investir na estabilização destas regiões e a proceder à reconstrução de forças policiais, escolas, redes de electricidade e de abastecimento de água. Graças à ajuda alemã, mais de 150.000 pessoas puderam regressar às suas casas após a libertação da cidade de Tikrit.
O terceiro componente da estratégia é o mais difícil de perceber, sendo, no entanto, o mais importante. A longo prazo, só será possível superar os conflitos e o caos que tornaram possível a propagação do ISIS se todos os grupos populacionais do Iraque e da Síria alcançarem uma perspectiva política comum.
No Iraque, o Primeiro-Ministro Haider al-Abadi lançou um corajoso programa de reformas para facilitar uma maior participação política dos sunitas. É evidente que na Síria, um processo política desta natureza ainda está longe de ser realidade, no entanto, devemos dar todos os passos possíveis nessa direcção.
A política externa alemã está na vanguarda destas iniciativas. No ano passado, participei em inúmeras (e muitas vezes difíceis) conversações em Riade, Teerão, Ancara, Beirute, Amã e Viena para ajudar a conciliar as divergências entre os países da região e, deste modo, pôr freio aos grupos que estão sob a sua influência e lutam entre si na Síria.
Anima-me o facto de, pela primeira vez em quase cinco anos de guerra civil, termos conseguido que todos os países-chave participassem nas negociações em Viena e acordassem um roteiro para um cessar-fogo e um processo de transição política. Ainda é muito cedo para celebrar, mas finalmente existe um consenso mínimo (partilhado não só pela Rússia e os EUA, mas também pelo Irão e a Arábia Saudita) quanto à via a seguir para resolver o conflito na Síria. O primeiro passo nesta via foi o encontro dos grupos de oposição sírios em Riade, no passado mês de Dezembro.
A caminhada rumo a um acordo político será longa e árdua, e o resultado não depende apenas de nós. Alguns dos intervenientes cuja participação é necessária prosseguem interesses muito diferentes dos nossos. Outros estão em desacordo entre si.
No entanto, queixarmo-nos da complexidade da situação na Síria não substitui a acção. O facto de algumas realidades políticas não se enquadrarem no modelo de amigo-inimigo não pode ser uma desculpa para nos sentarmos à espera que os antagonismos e os conflitos da região se resolvam por si, ou que não restem instituições nem estruturas estatais para salvar na Síria.
Os bons resultados alcançados nas negociações com vista a travar o programa nuclear do Irão demonstraram que a diplomacia persistente e de boa-fé pode funcionar. Na Líbia, onde um diplomata alemão experiente dirige as conversações conduzidas sob a égide das Nações Unidas, temos igualmente a oportunidade de encontrar uma via política para restabelecer a ordem do Estado.
Enquanto responsáveis pela concepção da política externa, temos de encarar a realidade, com todas as suas incertezas, e assumir a responsabilidade quer pela nossa acção, quer pela inacção, mesmo quando não haja garantias de sucesso. Assim, estarmos seguros das posições que adoptamos torna-se ainda mais importante. Não conseguiremos combater o ISIS e a ameaça do terrorismo islâmico erguendo a ponte levadiça; o que se impõe é a persistência e uma estratégia política que integre cuidadosamente os aspectos militares, humanitários e diplomáticos.
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BERLIM – Os ataques terroristas de 13 de Novembro em Paris, que atingiram o coração de França e da Europa como um todo, colocaram a ameaça terrorista que o Estado Islâmico (ISIS) representa no topo da agenda da política externa. Na minha opinião, a resposta a estes ataques não pode ser trancar as portas e colocar taipas nas janelas. Renunciar ao nosso estilo de vida e às nossas sociedades abertas seria ceder às pretensões dos terroristas.
A nossa resposta tem de ser, antes de tudo, política: reforçar a vigilância nos nossos países e uma cooperação mais intensa com as autoridades de segurança dos nossos aliados. O Ocidente deve mostrar determinação na luta contra a exclusão social que alimenta o sentimento de alienação, o que implica intensificar os nossos esforços para integrar os muçulmanos e outros imigrantes a todos os níveis. Ao mesmo tempo, é necessário atacar o mal do ISIS nos locais onde teve início: Iraque e Síria.
Na noite dos ataques de Paris, a Alemanha prometeu a França que permaneceria a seu lado. Decidimos recentemente que a nossa responsabilidade de cumprir esta promessa inclui uma contribuição militar para a luta contra o ISIS.
É evidente que todos sabemos que o terrorismo não pode ser derrotado apenas com bombas. Mas também estamos conscientes de que a ameaça do ISIS não poderá ser vencida sem meios militares e que, a menos que o ISIS seja combatido pela força militar, passado um ano poderá não haver uma base para a construção de uma solução política para a Síria ou para o Iraque.
Recentemente, estive dois dias no Iraque. No ano passado, foi possível expulsar o ISIS de um quarto do território sob o seu controlo neste país. No entanto, ainda temos pela frente as tarefas mais difíceis no que diz respeito a confrontar o ISIS. Três componentes são essenciais para o sucesso da nossa estratégia política.
O primeiro componente é o apoio aos que combatem o ISIS. A decisão que a Alemanha tomou no Verão passado de munir os peshmerga curdos de armas e munições não foi isenta de riscos, mas foi a decisão certa. Em Novembro, também graças ao apoio alemão, os peshmerga libertaram a cidade de Sinjar, onde o ISIS levou a cabo terríveis massacres de yazidis no Verão passado. Não teria sido possível travar o avanço do ISIS sem os ataques aéreos dos Aliados.
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Segundo componente: pela experiência adquirida em conflitos anteriores, sabemos o quanto é importante restabelecer a confiança pública nas zonas libertadas pelo ISIS. É por essa razão que estamos a investir na estabilização destas regiões e a proceder à reconstrução de forças policiais, escolas, redes de electricidade e de abastecimento de água. Graças à ajuda alemã, mais de 150.000 pessoas puderam regressar às suas casas após a libertação da cidade de Tikrit.
O terceiro componente da estratégia é o mais difícil de perceber, sendo, no entanto, o mais importante. A longo prazo, só será possível superar os conflitos e o caos que tornaram possível a propagação do ISIS se todos os grupos populacionais do Iraque e da Síria alcançarem uma perspectiva política comum.
No Iraque, o Primeiro-Ministro Haider al-Abadi lançou um corajoso programa de reformas para facilitar uma maior participação política dos sunitas. É evidente que na Síria, um processo política desta natureza ainda está longe de ser realidade, no entanto, devemos dar todos os passos possíveis nessa direcção.
A política externa alemã está na vanguarda destas iniciativas. No ano passado, participei em inúmeras (e muitas vezes difíceis) conversações em Riade, Teerão, Ancara, Beirute, Amã e Viena para ajudar a conciliar as divergências entre os países da região e, deste modo, pôr freio aos grupos que estão sob a sua influência e lutam entre si na Síria.
Anima-me o facto de, pela primeira vez em quase cinco anos de guerra civil, termos conseguido que todos os países-chave participassem nas negociações em Viena e acordassem um roteiro para um cessar-fogo e um processo de transição política. Ainda é muito cedo para celebrar, mas finalmente existe um consenso mínimo (partilhado não só pela Rússia e os EUA, mas também pelo Irão e a Arábia Saudita) quanto à via a seguir para resolver o conflito na Síria. O primeiro passo nesta via foi o encontro dos grupos de oposição sírios em Riade, no passado mês de Dezembro.
A caminhada rumo a um acordo político será longa e árdua, e o resultado não depende apenas de nós. Alguns dos intervenientes cuja participação é necessária prosseguem interesses muito diferentes dos nossos. Outros estão em desacordo entre si.
No entanto, queixarmo-nos da complexidade da situação na Síria não substitui a acção. O facto de algumas realidades políticas não se enquadrarem no modelo de amigo-inimigo não pode ser uma desculpa para nos sentarmos à espera que os antagonismos e os conflitos da região se resolvam por si, ou que não restem instituições nem estruturas estatais para salvar na Síria.
Os bons resultados alcançados nas negociações com vista a travar o programa nuclear do Irão demonstraram que a diplomacia persistente e de boa-fé pode funcionar. Na Líbia, onde um diplomata alemão experiente dirige as conversações conduzidas sob a égide das Nações Unidas, temos igualmente a oportunidade de encontrar uma via política para restabelecer a ordem do Estado.
Enquanto responsáveis pela concepção da política externa, temos de encarar a realidade, com todas as suas incertezas, e assumir a responsabilidade quer pela nossa acção, quer pela inacção, mesmo quando não haja garantias de sucesso. Assim, estarmos seguros das posições que adoptamos torna-se ainda mais importante. Não conseguiremos combater o ISIS e a ameaça do terrorismo islâmico erguendo a ponte levadiça; o que se impõe é a persistência e uma estratégia política que integre cuidadosamente os aspectos militares, humanitários e diplomáticos.
Tradução. Teresa Bettencourt