Newspaper headline that says 'terrorism' Susan Sermoneta/Flickr

Como combater o terrorismo jihadista

NOVA IORQUE – As sociedades abertas estão sempre em perigo. Isto é especialmente verdade para os EUA e a Europa de hoje, como resultado dos ataques terroristas em Paris e noutros lugares, e da forma como os EUA e a Europa, especialmente a França, reagiram a eles.

Os terroristas jihadistas, como o Estado Islâmico (ISIS) e a Al-Qaeda, descobriram o calcanhar de Aquiles das nossas sociedades ocidentais: o medo da morte. Ao alimentarem o medo através de ataques horríveis e vídeos macabros, os publicistas do ISIS despertaram e enalteceram esse medo, fazendo com que as pessoas das sociedades até agora abertas, que noutras circunstâncias seriam razoáveis, abandonem a sua sensatez.

Os neurocientistas descobriram que a emoção é uma componente essencial do raciocínio humano. Essa descoberta explica por que motivo o terrorismo jihadista representa uma ameaça tão potente para as nossas sociedades: o medo da morte leva-nos, e aos nossos líderes, a pensar - e depois a agir - irracionalmente.

A neurociência apenas confirma o que a experiência já demonstra há muito tempo: quando receamos pelas nossas vidas, as emoções apoderam-se dos nossos pensamentos e ações, e achamos difícil fazer julgamentos racionais. O medo ativa uma parte mais antiga e mais primitiva do cérebro que nada tem a ver com os valores e princípios abstratos da sociedade aberta.

A sociedade aberta está, portanto, sempre em risco da ameaça representada pela nossa resposta ao medo. Uma geração que herdou uma sociedade aberta dos seus pais não irá perceber o que é necessário para mantê-la, até ser testada e até aprender a evitar que o medo corrompa a razão. O terrorismo jihadista é apenas o exemplo mais recente. O medo de uma guerra nuclear testou a última geração e o medo do comunismo e do fascismo testou a minha geração.

O objetivo final dos terroristas jihadistas é convencer a juventude muçulmana de todo o mundo de que não há alternativa ao terrorismo. E os ataques terroristas são a forma de atingirem esse objetivo, porque o medo da morte irá despertar e aumentar os sentimentos antimuçulmanos latentes na Europa e nos EUA, induzindo a população não-muçulmana a tratar todos os muçulmanos como potenciais atacantes.

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E isso é, de facto, o que está a acontecer. A reação histérica antimuçulmana ao terrorismo está a gerar medo e ressentimento entre os muçulmanos que vivem na Europa e nos EUA. A geração mais velha reage com medo, a mais nova com ressentimento; o resultado é um terreno fértil para potenciais terroristas. Isto é um processo que é mutuamente de autorreforço e reflexivo.

Como é que isso pode ser interrompido e revertido? Abandonar os valores e princípios subjacentes às sociedades abertas e ceder a um impulso antimuçulmano ditado pelo medo não é certamente a resposta, embora possa ser difícil resistir à tentação. Eu, pessoalmente, tive essa experiência quando assisti ao último debate presidencial republicano; só consegui parar quando me lembrei de que tem de ser irracional seguir os desejos dos nossos inimigos.

Para eliminar o perigo representado pelo terrorismo jihadista, os argumentos abstratos não são suficientes; precisamos de uma estratégia para derrotá-lo. O desafio é realçado pelo facto de o fenómeno jihadista estar connosco há mais de uma geração. Na verdade, pode ser impossível compreendê-lo de forma adequada. Mas a tentativa tem de ser feita.

Vejamos o conflito sírio, que é a raiz do problema da migração que está a levantar uma ameaça existencial à União Europeia tal como a conhecemos. Se ele fosse resolvido, o mundo estaria muito melhor.

É importante reconhecer que o ISIS está a operar a partir de uma posição de fraqueza. Enquanto espalha o medo pelo mundo, o seu domínio na sua terra natal enfraquece. O Conselho de Segurança das Nações Unidas  aprovou por unanimidade uma resolução contra ele, e os líderes do ISIS estão cientes de que os seus dias no Iraque e na Síria estão contados.

É claro que as perspetivas para a Síria permanecem bastante incertas e o conflito aí não pode ser compreendido ou abordado de forma isolada. Mas há uma ideia que não deixa qualquer dúvida: é um erro declarado fazer o que os terroristas querem que façamos. É por isso que, à medida que 2016 avança, devemos reafirmar o nosso compromisso com os princípios da sociedade aberta e resistir ao canto da sereia de pessoas como o Donald Trump e o Ted Cruz, por mais difícil que possa ser.

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