CAMBRIDGE – Outro ano tumultuado confirmou que a economia global se encontra num ponto de virada. Enfrentamos quatro grandes desafios: a transição climática, o problema dos bons empregos, uma crise de desenvolvimento econômico e a procura de uma forma de globalização mais nova e mais saudável. Para abordar cada uma deles, precisamos deixar para trás modos de pensamento pré-estabelecidos e procurar soluções criativas e viáveis, reconhecendo ao mesmo tempo que esses esforços serão necessariamente descoordenados e experimentais.
As alterações climáticas são o desafio mais assustador e o mais desdenhado por mais tempo – a um custo elevado. Se quisermos evitar a condenação da humanidade a um futuro distópico, precisamos agir rapidamente para descarbonizar a economia global. Há muito que sabemos que devemos nos afastar dos combustíveis fósseis, desenvolver alternativas verdes e reforçar as nossas defesas contra os duradouros danos ambientais que a inação passada tem causado. No entanto, tornou-se claro que pouco disso poderá ser conseguido através da cooperação global ou das políticas preferidas dos economistas.
Em vez disso, cada país avançará com as suas próprias agendas verdes, implementando políticas que melhor levem em conta suas específicas restrições políticas, como já têm feito Estados Unidos, China e União Europeia. O resultado será uma miscelânea de limites de emissões, incentivos fiscais, apoio à pesquisa e desenvolvimento e políticas industriais verdes com pouca coerência global e ocasionais custos para outros países. Por mais confuso que seja, um impulso descoordenado para a ação climática pode ser o melhor que conseguimos realisticamente esperar.
Mas o nosso ambiente físico não é a única ameaça que enfrentamos. A desigualdade, a erosão da classe média e a polarização do mercado de trabalho causaram danos igualmente significativos ao nosso ambiente social. As consequências são agora amplamente evidentes. As disparidades econômicas, regionais e culturais dentro dos países estão aumentando e a democracia liberal (e os valores que a apoiam) parecem estar em declínio, refletindo o crescente apoio aos populistas xenófobos e autoritários e a crescente reação contra o conhecimento científico e técnico.
As transferências sociais e o Estado-previdência podem ajudar, mas o que é mais necessário é um aumento na oferta de bons empregos para os trabalhadores menos qualificados que perderam o acesso a eles. Precisamos de oportunidades de emprego mais produtivas e bem remuneradas, que possam proporcionar dignidade e reconhecimento social àqueles que não alcançaram nível universitário. A expansão da oferta desses empregos exigirá não só mais investimento na educação e uma defesa mais robusta dos direitos dos trabalhadores, como também um novo tipo de políticas industriais para os serviços, onde futuramente será criada a maior parte do emprego.
O desaparecimento dos empregos na indústria transformadora ao longo do tempo reflete tanto uma automatização maior como uma concorrência global mais forte. Os países em desenvolvimento não ficaram imunes a nenhum dos fatores. Muitos experimentaram a “ desindustrialização prematura”: a absorção de trabalhadores em empresas industriais formais e produtivas é agora muito limitada, o que significa que estão impedidos de continuar com o tipo de estratégia de desenvolvimento orientada para a exportação que tem sido tão eficaz na Ásia Oriental e em poucos outros países. Juntamente com o desafio climático, esta crise das estratégias de crescimento nos países de baixo rendimento exige um modelo de desenvolvimento inteiramente novo.
At a time of escalating global turmoil, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided.
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Assim como nas economias avançadas, os serviços serão a principal fonte de criação de emprego nos países de baixo e médio rendimento. Mas a maioria dos serviços nessas economias é dominada por empresas informais muito pequenas – muitas vezes empresas unipessoais – e não existem essencialmente modelos prontos de desenvolvimento liderado por serviços que possam ser copiados. Os governos terão de experimentar, combinando o investimento na transição verde com melhorias de produtividade em serviços que absorvam mão-de-obra.
Finalmente, a própria globalização precisa ser reinventada. O modelo de hiper globalização pós-1990 foi ultrapassado pelo aumento da concorrência geopolítica entre os EUA e a China e pela maior prioridade atribuída às preocupações internas sociais, econômicas, de saúde pública e ambientais. Deixando de ser adequada à sua finalidade, a globalização tal como a conhecemos terá de ser substituída por um novo entendimento que reequilibre as necessidades nacionais e os requisitos de uma economia global saudável que facilite o comércio internacional e o investimento estrangeiro a longo prazo.
Muito provavelmente, o novo modelo de globalização será menos intrusivo, reconhecendo as necessidades de todos os países (não apenas das grandes potências) que pretendem uma maior flexibilidade política para enfrentar os desafios internos e os imperativos de segurança nacional. Uma possibilidade é que os EUA ou a China adotem uma visão excessivamente expansiva das suas necessidades de segurança, procurando a primazia global (no caso dos EUA) ou a dominação regional (China). O resultado seria uma “ armamentização ” da interdependência econômica e uma significativa dissociação econômica, com o comércio e o investimento tratados como um jogo de soma zero.
Mas também poderia haver um cenário mais favorável em que ambas as potências mantivessem suas ambições geopolíticas sob controle, reconhecendo que os seus concorrentes objetivos econômicos são melhor servidos através da acomodação e da cooperação. Esse cenário poderá servir bem à economia global, mesmo que – ou talvez porque – fique aquém da hiper globalização. Tal como a era de Bretton Woods mostrou, uma significativa expansão do comércio e do investimento globais é compatível com um modelo tênue de globalização, em que os países mantêm uma considerável autonomia política para promover a coesão social e o crescimento econômico no nível interno. O maior presente que as grandes potências podem dar à economia mundial é gerir bem suas próprias economias nacionais.
Todos estes desafios exigem novas ideias e enquadramentos. Não precisamos jogar pela janela a economia convencional. Mas para permanecerem relevantes, os economistas precisam aprender a aplicar as ferramentas da sua profissão aos objetivos e restrições do dia. Precisarão estar abertos à experimentação e solidários caso os governos se envolvam em ações que não estejam em conformidade com os manuais do passado.
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US President Donald Trump’s import tariffs have triggered a wave of retaliatory measures, setting off a trade war with key partners and raising fears of a global downturn. But while Trump’s protectionism and erratic policy shifts could have far-reaching implications, the greatest victim is likely to be the United States itself.
warns that the new administration’s protectionism resembles the strategy many developing countries once tried.
It took a pandemic and the threat of war to get Germany to dispense with the two taboos – against debt and monetary financing of budgets – that have strangled its governments for decades. Now, it must join the rest of Europe in offering a positive vision of self-sufficiency and an “anti-fascist economic policy.”
welcomes the apparent departure from two policy taboos that have strangled the country's investment.
CAMBRIDGE – Outro ano tumultuado confirmou que a economia global se encontra num ponto de virada. Enfrentamos quatro grandes desafios: a transição climática, o problema dos bons empregos, uma crise de desenvolvimento econômico e a procura de uma forma de globalização mais nova e mais saudável. Para abordar cada uma deles, precisamos deixar para trás modos de pensamento pré-estabelecidos e procurar soluções criativas e viáveis, reconhecendo ao mesmo tempo que esses esforços serão necessariamente descoordenados e experimentais.
As alterações climáticas são o desafio mais assustador e o mais desdenhado por mais tempo – a um custo elevado. Se quisermos evitar a condenação da humanidade a um futuro distópico, precisamos agir rapidamente para descarbonizar a economia global. Há muito que sabemos que devemos nos afastar dos combustíveis fósseis, desenvolver alternativas verdes e reforçar as nossas defesas contra os duradouros danos ambientais que a inação passada tem causado. No entanto, tornou-se claro que pouco disso poderá ser conseguido através da cooperação global ou das políticas preferidas dos economistas.
Em vez disso, cada país avançará com as suas próprias agendas verdes, implementando políticas que melhor levem em conta suas específicas restrições políticas, como já têm feito Estados Unidos, China e União Europeia. O resultado será uma miscelânea de limites de emissões, incentivos fiscais, apoio à pesquisa e desenvolvimento e políticas industriais verdes com pouca coerência global e ocasionais custos para outros países. Por mais confuso que seja, um impulso descoordenado para a ação climática pode ser o melhor que conseguimos realisticamente esperar.
Mas o nosso ambiente físico não é a única ameaça que enfrentamos. A desigualdade, a erosão da classe média e a polarização do mercado de trabalho causaram danos igualmente significativos ao nosso ambiente social. As consequências são agora amplamente evidentes. As disparidades econômicas, regionais e culturais dentro dos países estão aumentando e a democracia liberal (e os valores que a apoiam) parecem estar em declínio, refletindo o crescente apoio aos populistas xenófobos e autoritários e a crescente reação contra o conhecimento científico e técnico.
As transferências sociais e o Estado-previdência podem ajudar, mas o que é mais necessário é um aumento na oferta de bons empregos para os trabalhadores menos qualificados que perderam o acesso a eles. Precisamos de oportunidades de emprego mais produtivas e bem remuneradas, que possam proporcionar dignidade e reconhecimento social àqueles que não alcançaram nível universitário. A expansão da oferta desses empregos exigirá não só mais investimento na educação e uma defesa mais robusta dos direitos dos trabalhadores, como também um novo tipo de políticas industriais para os serviços, onde futuramente será criada a maior parte do emprego.
O desaparecimento dos empregos na indústria transformadora ao longo do tempo reflete tanto uma automatização maior como uma concorrência global mais forte. Os países em desenvolvimento não ficaram imunes a nenhum dos fatores. Muitos experimentaram a “ desindustrialização prematura”: a absorção de trabalhadores em empresas industriais formais e produtivas é agora muito limitada, o que significa que estão impedidos de continuar com o tipo de estratégia de desenvolvimento orientada para a exportação que tem sido tão eficaz na Ásia Oriental e em poucos outros países. Juntamente com o desafio climático, esta crise das estratégias de crescimento nos países de baixo rendimento exige um modelo de desenvolvimento inteiramente novo.
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Finalmente, a própria globalização precisa ser reinventada. O modelo de hiper globalização pós-1990 foi ultrapassado pelo aumento da concorrência geopolítica entre os EUA e a China e pela maior prioridade atribuída às preocupações internas sociais, econômicas, de saúde pública e ambientais. Deixando de ser adequada à sua finalidade, a globalização tal como a conhecemos terá de ser substituída por um novo entendimento que reequilibre as necessidades nacionais e os requisitos de uma economia global saudável que facilite o comércio internacional e o investimento estrangeiro a longo prazo.
Muito provavelmente, o novo modelo de globalização será menos intrusivo, reconhecendo as necessidades de todos os países (não apenas das grandes potências) que pretendem uma maior flexibilidade política para enfrentar os desafios internos e os imperativos de segurança nacional. Uma possibilidade é que os EUA ou a China adotem uma visão excessivamente expansiva das suas necessidades de segurança, procurando a primazia global (no caso dos EUA) ou a dominação regional (China). O resultado seria uma “ armamentização ” da interdependência econômica e uma significativa dissociação econômica, com o comércio e o investimento tratados como um jogo de soma zero.
Mas também poderia haver um cenário mais favorável em que ambas as potências mantivessem suas ambições geopolíticas sob controle, reconhecendo que os seus concorrentes objetivos econômicos são melhor servidos através da acomodação e da cooperação. Esse cenário poderá servir bem à economia global, mesmo que – ou talvez porque – fique aquém da hiper globalização. Tal como a era de Bretton Woods mostrou, uma significativa expansão do comércio e do investimento globais é compatível com um modelo tênue de globalização, em que os países mantêm uma considerável autonomia política para promover a coesão social e o crescimento econômico no nível interno. O maior presente que as grandes potências podem dar à economia mundial é gerir bem suas próprias economias nacionais.
Todos estes desafios exigem novas ideias e enquadramentos. Não precisamos jogar pela janela a economia convencional. Mas para permanecerem relevantes, os economistas precisam aprender a aplicar as ferramentas da sua profissão aos objetivos e restrições do dia. Precisarão estar abertos à experimentação e solidários caso os governos se envolvam em ações que não estejam em conformidade com os manuais do passado.
Tradução de Anna Maria Dalle Luche, Brazil