taylor14_JJ GouinGetty Images_UScovidstimuluscheck JJ Gouin/Getty Images

Por John B. Taylor

A cada rodada da legislação, um “pagamento de impacto econômico” (PIE, no original em inglês) foi pago à população por meio de depósitos diretos, cheques ou um cartão de débito pré-pago especial e, em cada caso, a ideia era que os recursos fossem gastos com consumo, para auxiliar a demanda agregada e, assim, estimular a economia de modo geral. Os PIEs foram liberados em valores específicos de dólares, que variavam de US$ 600 a US$ 1,4 mil para um indivíduo, e de US$ 1,2 mil a US$ 2,8 mil para contribuintes casados até um certo teto de renda.

A lógica desses pagamentos temporários se baseou na função de consumo de Keynes, segundo a qual um aumento na renda eleva os gastos, impulsionando assim a economia. Porém, pontos de vista alternativos, como a hipótese de renda permanente que MiltonFriedman elaborou pela primeira vez na década de 1950, argumentam que tais aumentos na renda levam apenas a pequenas altas no consumo – se chegar a tanto – justamente porque são aumentos temporários.

O gráfico abaixo mostra os efeitos reais dos PIEs sobre a renda pessoal descartável e as despesas de consumo pessoal (DPI e PCE, nas siglas originais em inglês) de janeiro de 2019 a abril deste ano, segundo os dados mais recentes da Agência de Análise Econômica dos EUA. Os três picos de DPI se devem – e coincidem com – com os três PIEs, indicando que a DPI subiu de modo acentuado quando um PIE foi feito, e logo depois caiu de volta a seu nível original quando os pagamentos terminaram. Estes foram claramente aumentos temporários na renda, e foram anunciados como tal.

[Gráfico]

Agora, olhe para a linha PCE: ela não mostra aumento à época dos três PIEs. A retomada do consumo acompanha a trajetória da DPI mais permanente, que exclui os pagamentos (a linha tracejada). O “estímulo” adicional teve pouco ou nenhum impacto no consumo nos meses em que houve enormes aumentos na DPI alimentada pelos PIEs – abril de 2020, janeiro de 2021 e março de 2021. A hipótese de renda permanente prevê que uma grande quantidade dos PIEs temporários seria poupada em vez de gasta em consumo e em estimular a economia, e é precisamente isso o que parece ter acontecido.

Embora o gráfico já seja bastante claro sobre o impacto pequeno dos PIEs sobre o consumo, pode-se confirmar ainda mais a constatação testando formalmente o impacto, usando técnicas de regressão estatística. Aqui, é possível constatar que o impacto dos PIEs no consumo foi estatisticamente insignificante, ao passo que o da DPI que exclui os pagamentos foi estatisticamente significativo.

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Esta não é a primeira vez que o governo americano tenta estimular a economia com injeções temporárias de renda. Como os PIEs do ano passado, os pagamentos “bônus” únicos da Lei deEstímuloEconômicode 2008 aumentaram as DPIs, mas não tiveram efeito notável no consumo; logo, pouco fizeram para estimular a demanda agregada ou a economia. De novo, uma análise de regressão mostra que o impacto dos auxílios no consumo foi estatisticamente insignificante, enquanto aquele das DPIs mais permanentes excluindo os auxílios teve um efeito estatisticamente significativo.

Em 2008, o consenso entre os economistas era de que pagamentos temporários não funcionariam como fonte de estímulo. Após esse experimento inicial, muitos economistas examinaram as políticas econômicas e mostraram que elas de fato nada fizeram para incentivar a economia. Estas descobertas levantaram grandes questões sobre o uso prático de políticas fiscais anticíclicas irrestritas e temporárias. John F. Cogan, Volker Wieland e eu expusemos esses problemas no Wall Street Journal em 2009, em um comentário cujo título era “O Estímulo Não Funcionou”.

Mesmo assim, houve um dramático renascimento do interesse exatamente nesse mesmo tipo de estímulo assim que a covid-19 chegou. O pagamento de incentivos está de volta com sede de vingança. Embora tenha um novo nome agora, o padrão não mudou. Seja usando gráficos reveladores ou técnicas formais de regressão, a evidência empírica mais atual de que dispomos confirma a visão apresentada há uma década (ou mesmo a de décadas atrás): programas temporários de estímulo simplesmente não aumentam o consumo ou estimulam a economia de modo geral.

Tradução por Fabrício Calado Moreira

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