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A Agenda de Crescimento para o Reino Unido

CAMBRIDGE – Tal como em muitos outros países desenvolvidos ultimamente, os dois principais partidos políticos do Reino Unido assumiram o crescimento econômico como a sua principal prioridade política. No entanto, após a volátil experiência de 49 dias do governo de Liz Truss e sua “corrida para o crescimento” em 2022, os dois partidos sublinham que não existem atalhos financeiros. O foco, em vez disso, está na concepção de medidas para aumentar a produtividade, a alocação de recursos e o crescimento a longo prazo. A esse respeito, o Partido Trabalhista, da oposição, está à frente dos Conservadores, no poder, embora ambos ainda estejam trabalhando nos detalhes da implementação real.

Um crescimento dinâmico, duradouro, sustentável e inclusivo é essencial para um país onde as gerações mais velhas correm o risco de ver seus filhos acabarem numa situação pior do que a deles. Isso não acontecia há muitas décadas. Só o crescimento pode proporcionar os recursos necessários para melhorar os padrões de vida, melhorar os serviços públicos, apoiar sustentáveis iniciativas energéticas, limitar a escala dos aumentos generalizados de impostos e combater a desigualdade de riqueza, rendimento e oportunidades.

Em suma, trata-se de aumentar o limite seguro de velocidade para o crescimento econômico. O Banco da Inglaterra estima  que o crescimento potencial da economia do Reino Unido possa ser tão baixo quanto 1%. A essa velocidade, muitas das coisas que afetam o país poderão piorar, em vez de melhorar, ao longo do tempo. Além disso, este já fraco potencial de crescimento poderá se deteriorar ainda mais se o problema continuar se agravando.

Não existe nenhuma iniciativa mágica que possa mudar essa perspectiva. Muitos políticos britânicos ainda são assombrados pela saga de Truss, quando a recém-chegada primeira-ministra tentou usar cortes de impostos não financiados como estímulo, apenas para criar um episódio prejudicial de instabilidade financeira que forçou uma mudança de governo. É agora amplamente reconhecido que, após tantos anos de insuficiente investimento e de queda da produtividade, alcançar um crescimento de alta qualidade requer uma abordagem política abrangente que se baseie em muitos objetivos intermediários.

O Partido Trabalhista foi mais longe ao especificar essas reformas estruturais. Seu programa inclui propostas para renovar o sistema de planeamento, impulsionar infraestruturas, melhorar as ligações comerciais, atrair investimento privado nacional e estrangeiro (inclusive através de um energizado Fundo Nacional de Riqueza), eliminar distorções fiscais e prosseguir iniciativas setoriais específicas. O partido também identificou promissoras parcerias público-privadas destinadas a aumentar os fundos de investimento, ao mesmo tempo que incentiva a  inovação e a eficiência.

Os Trabalhistas indicaram que tentariam “conectar” muitas destas reformas, fortalecendo as instituições existentes. Para garantir que todas as suas políticas permaneçam compatíveis com a estabilidade financeira, comprometeu-se a aderir à mesma “regra” de dívida pública que o  atual Partido Conservador.

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O desafio agora é elaborar um detalhado plano de execução que inclua um sistema de  monitorização de alta frequência para fornecer feedback em tempo real e permitir oportunas correções de rumo, se necessário. Qualquer roteiro de política econômica deve favorecer reformas abrangentes em detrimento de reformas fragmentadas. Tais reformas deveriam ser implementadas simultaneamente, e não sequencialmente, e deveriam ocorrer mais cedo do que mais tarde.

Tal como o Partido Trabalhista demonstrou com sua bem sucedida decolagem depois de chegar ao poder em 1997, uma nova ênfase no crescimento beneficiaria sérias medidas de aumento de credibilidade. Foi isso que o então Chanceler do Tesouro, Gordon Brown, fez com sua surpreendente e perspicaz decisão de entregar as rédeas da política de taxas de juros ao BOE, consagrando assim o princípio da independência do banco central.

Espera-se que a atual liderança trabalhista não tenha excluído a possibilidade de demasiada flexibilidade política em sua busca por uma decisiva vitória eleitoral. Algumas das medidas  mais poderosas propostas exigiriam recursos iniciais, mas seu crescimento e benefícios financeiros só se materializariam com o tempo. O próximo governo também se verá confrontado com um sistema internacional mais complicado e cada vez mais fragmentado e terá de garantir uma consistente adesão do setor privado, que, em última análise, terá de fazer a maior parte do trabalho pesado.

Outra tarefa correlata é melhorar o funcionamento dos existentes motores de crescimento, apoiando ao mesmo tempo o desenvolvimento dos setores e indústrias que impulsionarão o crescimento no futuro. Encontrar um equilíbrio adequado poderá ser a parte mais difícil do desafio, dadas as restrições de recursos do país e o fato de algumas iniciativas-chave serem melhor implementadas em nível regional. (Com a falta de iniciativas regionais robustas suficientes para impulsionar a inovação em inteligência artificial, ciências humanas e energia sustentável, a União Europeia enfrenta atualmente um problema semelhante.)

Promover crescimento elevado, duradouro, sustentável e inclusivo nunca será fácil depois de tantos anos de negligência. A necessidade de renovar os existentes motores de crescimento no Reino Unido e, simultaneamente, lançar novos motores torna a tarefa ainda mais complicada.  Mas, parafraseando o  famoso discurso do Presidente dos EUA, John F. Kennedy, o partido vencedor precisa fazer essas e “outras coisas, não porque sejam fáceis, mas porque são difíceis”.

Tradução de Anna Maria Dalle Luche, Brazil.

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