ESTOCOLMO – O anúncio dos laureados pelo prémio Nobel deste ano deveria lembrar-nos as inúmeras contribuições feitas pela ciência básica à vida contemporânea. Com a COVID-19 a assolar grande parte da humanidade, e o mundo ansiosamente à espera de uma inovação que possa acabar com a pandemia, já não podemos tomar a ciência como garantida. E a comunidade científica global, por seu turno, mostrou estar à altura das circunstâncias de formas inéditas, não só para desenvolver vacinas, terapias e meios de diagnóstico, mas também para melhorar a nossa compreensão do vírus e as melhores estratégias para nos protegermos.
Mas o mundo também está a ser afectado por outras crises que não podem ser ignoradas. O mês passado foi o Setembro mais quente já registado. Dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo já sofrem os efeitos desastrosos das alterações climáticas provocadas pela humanidade, dos violentos incêndios florestais e da subida do nível dos oceanos a perigosas ondas de calor, secas e cheias. Dadas as emissões actuais e projectadas de gases com efeito de estufa, serão inevitáveis mais sintomas extremos deste tipo, e o aumento da frequência e da intensidade de muitos poderá ser irreversível.
Também existem crises sociais e económicas crescentes. A pandemia maltratou as economias nacionais, agravou muitas formas de desigualdade e semeou desconfiança e agitação social por todo o mundo. Dependemos cada vez mais da tecnologia para vivermos a nossa existência quotidiana, educarmos os nossos filhos e ligarmo-nos uns aos outros, mas ainda temos de fazer muito para evitar que a mesma tecnologia seja usada para amplificar desinformação perigosa, inflamar a agitação social e deixar as comunidades vulneráveis ainda mais desfavorecidas.
Tal como os cientistas e os investigadores se uniram de forma inédita para combater a pandemia, também nós temos de mobilizar as nossas melhores e mais brilhantes mentes para combatermos estas outras emergências globais. Tal como a COVID-19, nenhuma destas emergências pode ser detida num dado local até que seja vencida em todo o lado.
Retirando lições da resposta global à pandemia e dos esforços globais para a recuperação, as nossas organizações acolherão uma cimeira virtual de Prémios Nobel na próxima Primavera, segundo o tema “Nosso Planeta, Nosso Futuro”. O evento reunirá laureados com o Nobel, pensadores proeminentes e líderes juvenis, para debaterem como se podem contrariar as alterações climáticas, a desigualdade e os potenciais danos das potentes novas tecnologias. O objectivo final será a construção de um futuro mais resiliente e sustentável para todos.
Na nossa época do Antropoceno, reconhecemos que a humanidade se tornou na mais importante força isolada que age sobre o planeta. Também devíamos reconhecer que as nossas próprias intromissões na natureza são o denominador comum subjacente às crises globais da actualidade. Existem cada vez mais evidências que mostram que não só as alterações climáticas, mas também os surtos de doenças, estão relacionados com o desenvolvimento humano e a perda da biodiversidade.
At a time of escalating global turmoil, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided.
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À medida que se vão perdendo as protecções naturais entre os humanos e os animais portadores de doenças, pode aumentar a probabilidade de ocorrência de pandemias tão graves como a actual. Como vivemos num mundo tão interligado, o que começa por ser uma emergência de saúde pública local pode evoluir rapidamente para uma crise económica global com repercussões sociais profundas.
A crise actual deveria ser, portanto, um momento transformativo para a humanidade. Estamos a testemunhar em primeira mão o modo como os nossos futuros individuais dependem da saúde colectiva e da segurança de todas as pessoas e do nosso mundo natural. Embora a ciência não consiga proporcionar todas as respostas, é claramente a ferramenta mais importante de que dispomos, não só para parar a pandemia, mas também para desenvolvermos a resiliência nas nossas infra-estruturas e na nossa economia.
A pandemia da COVID-19 também proporcionou muitas lições que serão úteis à preparação de um futuro marcado pelas alterações climáticas, pela perda da biodiversidade, pela disrupção tecnológica e pela desigualdade. Por exemplo, como já vimos em muitos locais, a natureza “recuperou” rapidamente durante as etapas iniciais da pandemia, devido aos confinamentos generalizados na sociedade. Também vimos que o vírus e as suas ramificações mais alargadas sobrecarregaram de forma desproporcional os cidadãos mais vulneráveis, como as minorias raciais e os desfavorecidos. Temos agora de considerar o que estes efeitos desiguais nos dizem sobre a nossa infra-estrutura e os nossos acordos sociais actuais. Como poderemos repensar as instituições de modo a garantirmos mais justiça para todos?
Também aprendemos que a confiança pública na ciência é essencial, tal como o é uma compreensão básica do risco e da incerteza. Sem aceitação pública, não se prevê uma gestão política eficaz de crises futuras. A desinformação, amplamente disseminada com a ajuda das actuais tecnologias da informação e da comunicação, criou uma “infodemia” dentro da pandemia, reduzindo a confiança do público na ciência e dificultando ainda mais a tarefa dos responsáveis de saúde pública para contenção do vírus. Como podemos combater as narrativas falsas ou enganadoras e comunicar as descobertas científicas de um modo mais eficaz junto dos legisladores e do público?
Embora as nossas comemorações dos prémios Nobel deste ano ocorram de forma virtual, não serão menos entusiásticas que no passado. E, apesar da infodemia, a valorização da ciência pela maioria das pessoas cresceu durante esta crise. Os cientistas uniram-se como nunca para ajudar a parar a COVID-19. Para vencermos a pandemia e ultrapassarmos os outros desafios globais que enfrentamos, temos de seguir o seu exemplo e os seus passos.
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With German voters clearly demanding comprehensive change, the far right has been capitalizing on the public's discontent and benefiting from broader global political trends. If the country's democratic parties cannot deliver, they may soon find that they are no longer the mainstream.
explains why the outcome may decide whether the political “firewall” against the far right can hold.
The Russian and (now) American vision of "peace" in Ukraine would be no peace at all. The immediate task for Europe is not only to navigate Donald’s Trump unilateral pursuit of a settlement, but also to ensure that any deal does not increase the likelihood of an even wider war.
sees a Korea-style armistice with security guarantees as the only viable option in Ukraine.
Rather than engage in lengthy discussions to pry concessions from Russia, US President Donald Trump seems committed to giving the Kremlin whatever it wants to end the Ukraine war. But rewarding the aggressor and punishing the victim would amount to setting the stage for the next war.
warns that by punishing the victim, the US is setting up Europe for another war.
Within his first month back in the White House, Donald Trump has upended US foreign policy and launched an all-out assault on the country’s constitutional order. With US institutions bowing or buckling as the administration takes executive power to unprecedented extremes, the establishment of an authoritarian regime cannot be ruled out.
The rapid advance of AI might create the illusion that we have created a form of algorithmic intelligence capable of understanding us as deeply as we understand one another. But these systems will always lack the essential qualities of human intelligence.
explains why even cutting-edge innovations are not immune to the world’s inherent unpredictability.
ESTOCOLMO – O anúncio dos laureados pelo prémio Nobel deste ano deveria lembrar-nos as inúmeras contribuições feitas pela ciência básica à vida contemporânea. Com a COVID-19 a assolar grande parte da humanidade, e o mundo ansiosamente à espera de uma inovação que possa acabar com a pandemia, já não podemos tomar a ciência como garantida. E a comunidade científica global, por seu turno, mostrou estar à altura das circunstâncias de formas inéditas, não só para desenvolver vacinas, terapias e meios de diagnóstico, mas também para melhorar a nossa compreensão do vírus e as melhores estratégias para nos protegermos.
Mas o mundo também está a ser afectado por outras crises que não podem ser ignoradas. O mês passado foi o Setembro mais quente já registado. Dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo já sofrem os efeitos desastrosos das alterações climáticas provocadas pela humanidade, dos violentos incêndios florestais e da subida do nível dos oceanos a perigosas ondas de calor, secas e cheias. Dadas as emissões actuais e projectadas de gases com efeito de estufa, serão inevitáveis mais sintomas extremos deste tipo, e o aumento da frequência e da intensidade de muitos poderá ser irreversível.
Também existem crises sociais e económicas crescentes. A pandemia maltratou as economias nacionais, agravou muitas formas de desigualdade e semeou desconfiança e agitação social por todo o mundo. Dependemos cada vez mais da tecnologia para vivermos a nossa existência quotidiana, educarmos os nossos filhos e ligarmo-nos uns aos outros, mas ainda temos de fazer muito para evitar que a mesma tecnologia seja usada para amplificar desinformação perigosa, inflamar a agitação social e deixar as comunidades vulneráveis ainda mais desfavorecidas.
Tal como os cientistas e os investigadores se uniram de forma inédita para combater a pandemia, também nós temos de mobilizar as nossas melhores e mais brilhantes mentes para combatermos estas outras emergências globais. Tal como a COVID-19, nenhuma destas emergências pode ser detida num dado local até que seja vencida em todo o lado.
Retirando lições da resposta global à pandemia e dos esforços globais para a recuperação, as nossas organizações acolherão uma cimeira virtual de Prémios Nobel na próxima Primavera, segundo o tema “Nosso Planeta, Nosso Futuro”. O evento reunirá laureados com o Nobel, pensadores proeminentes e líderes juvenis, para debaterem como se podem contrariar as alterações climáticas, a desigualdade e os potenciais danos das potentes novas tecnologias. O objectivo final será a construção de um futuro mais resiliente e sustentável para todos.
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À medida que se vão perdendo as protecções naturais entre os humanos e os animais portadores de doenças, pode aumentar a probabilidade de ocorrência de pandemias tão graves como a actual. Como vivemos num mundo tão interligado, o que começa por ser uma emergência de saúde pública local pode evoluir rapidamente para uma crise económica global com repercussões sociais profundas.
A crise actual deveria ser, portanto, um momento transformativo para a humanidade. Estamos a testemunhar em primeira mão o modo como os nossos futuros individuais dependem da saúde colectiva e da segurança de todas as pessoas e do nosso mundo natural. Embora a ciência não consiga proporcionar todas as respostas, é claramente a ferramenta mais importante de que dispomos, não só para parar a pandemia, mas também para desenvolvermos a resiliência nas nossas infra-estruturas e na nossa economia.
A pandemia da COVID-19 também proporcionou muitas lições que serão úteis à preparação de um futuro marcado pelas alterações climáticas, pela perda da biodiversidade, pela disrupção tecnológica e pela desigualdade. Por exemplo, como já vimos em muitos locais, a natureza “recuperou” rapidamente durante as etapas iniciais da pandemia, devido aos confinamentos generalizados na sociedade. Também vimos que o vírus e as suas ramificações mais alargadas sobrecarregaram de forma desproporcional os cidadãos mais vulneráveis, como as minorias raciais e os desfavorecidos. Temos agora de considerar o que estes efeitos desiguais nos dizem sobre a nossa infra-estrutura e os nossos acordos sociais actuais. Como poderemos repensar as instituições de modo a garantirmos mais justiça para todos?
Também aprendemos que a confiança pública na ciência é essencial, tal como o é uma compreensão básica do risco e da incerteza. Sem aceitação pública, não se prevê uma gestão política eficaz de crises futuras. A desinformação, amplamente disseminada com a ajuda das actuais tecnologias da informação e da comunicação, criou uma “infodemia” dentro da pandemia, reduzindo a confiança do público na ciência e dificultando ainda mais a tarefa dos responsáveis de saúde pública para contenção do vírus. Como podemos combater as narrativas falsas ou enganadoras e comunicar as descobertas científicas de um modo mais eficaz junto dos legisladores e do público?
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