strain35_Christina HouseGettyImages_commencement_ceremony Christina House/Getty Images

A imigração de pessoas altamente qualificadas pode aumentar com Trump?

WASHINGTON (D.C.) – Donald Trump ainda não assumiu o cargo, mas uma fissura já se abriu em sua coalizão política. O racha começou quando Trump escolheu Sriram Krishnan, americano de ascendência indiana e aliado de Elon Musk, como consultor-sênior da Casa Branca para inteligência artificial. Krishnan já havia defendido a suspensão dos limites dos green cards, e sua nomeação provocou uma reação contra os imigrantes nas mídias sociais.

No centro da disputa está a facção nativista de oposição “Make America Great Again”, incluindo Steve Bannon e Laura Loomer, ao aumento da imigração legal para os Estados Unidos, que a ala tecnológica da coalizão de Trump, incluindo Elon Musk e Vivek Ramaswamy, apoia.

O próprio Trump se manifestou, expressando seu apoio à imigração de alta qualificação. Ao fazer isso, o presidente eleito escolheu a prosperidade de longo prazo e a competitividade americana em vez do declínio e de uma visão falha de soma zero da economia.

Imigrantes altamente qualificados alimentam a inovação - o motor do crescimento econômico de longo prazo. Eles geram mais patentes do que os nativos. Além disso, descobriu-se que inovadores nativos e imigrantes aumentam a produtividade uns dos outros, o que sugere que a combinação de conjuntos de conhecimento é um componente importante da descoberta e invenção científica.

As contribuições empreendedoras dos imigrantes altamente qualificados, que abrem muitas das empresas que estimulam o crescimento do emprego em toda a economia americana, são fundamentais para a prosperidade de longo prazo. Um estudo recente realizado pelos economistas Michel Beine, Giovanni Peri e Morgan Raux constatou que o aumento da participação de estudantes de mestrado nascidos no exterior nas universidades dos EUA levou à criação de mais startups no país. Mais de um terço dessas startups foi resultado da colaboração entre graduados estrangeiros e nativos.

Esses resultados beneficiam todos os americanos, e é por isso que, num relatório recente do Bipartisan Policy Center que delineia uma possível “grande barganha” que aborda várias áreas de políticas econômicas ao mesmo tempo, meus coautores e eu defendemos a expansão da imigração de alta qualificação.

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O Congresso deve mudar o foco do sistema de imigração dos EUA, deixando de lado a reunificação familiar e passando a focar no emprego. Nos últimos anos, mais da metade de todos os green cards foram concedidos a familiares imediatos de cidadãos americanos, sendo que os familiares estendidos constituem a segunda maior categoria de beneficiários. Menos de um em cada seis green cards são emitidos para fins de emprego. Em nosso relatório, propomos dobrar o número de green cards para fins de emprego emitidos anualmente.

Um passo simples nessa direção seria parar de mandar embora os graduados estrangeiros das universidades dos EUA. Em 2023, os estrangeiros obtiveram mais de um terço de todos os doutorados nos EUA nas áreas de ciências e engenharia, incluindo 45% dos doutorados em física e mais da metade dos doutorados em ciência da computação e economia. Contudo, só uma pequena fração deles teve permissão para permanecer no país após a graduação.

Expulsar esses cientistas justamente quando eles podem começar a fazer contribuições importantes para a vida social e econômica é um ato de autossabotagem econômica. Eles deveriam receber green cards junto com seus diplomas - política que Trump está declarando apoiar.

Em setembro, Trump disse a Marc A. Thiessen, colunista do The Washington Post: “Se você passar quatro anos na faculdade (e for estrangeiro), acho que deveria receber um green card como parte do seu diploma”. Ele continuou dizendo que “há muitos casos em que esses jovens voltam para a Índia, voltam para o lugar de onde vieram”, quando poderiam estar contribuindo para a economia dos EUA.

razões para sermos céticos quanto à possibilidade de Trump aumentar a imigração legal em seu segundo mandato, incluindo o histórico de seu primeiro mandato. O primeiro governo Trump tentou reduzir pela metade o número de green cards emitidos anualmente, quase dobrou a taxa de solicitação de cidadania para portadores de green cards e negou vistos a imigrantes que não puderam provar que tinham plano de saúde.

Além disso, a proibição antecipada de Trump à imigração de sete países de maioria muçulmana, a retórica xenofóbica sobre estrangeiros e a terrível política de separação de famílias na fronteira sugerem uma animosidade profunda em relação aos imigrantes. Embora isso não impeça necessariamente que Trump apoie um aumento na imigração baseada no emprego, já levanta sérias dúvidas sobre sua disposição de avançar nessa direção.

Ainda assim, não devemos descartar as declarações explícitas de Trump em apoio ao aumento da imigração de alta qualificação e à concessão de green cards para estrangeiros formados em universidades dos EUA. Também não devemos minimizar indevidamente sua decisão de ficar do lado da ala tecnológica de sua coalizão na confusão de dezembro.

Do ponto de vista econômico, outro motivo para otimismo é que as políticas de imigração do primeiro mandato de Trump se concentraram principalmente em conter a imigração ilegal, e não a legal. É verdade que o principal conselheiro de Trump sobre o assunto, Stephen Miller, também é falcão (agressivo, neste sentido) em relação à imigração legal. Mas as autoridades pró-negócios da primeira Casa Branca de Trump mantiveram Miller e seus aliados à distância. Musk está se preparando para desempenhar um papel semelhante no novo governo e poderia muito bem vencer essas batalhas.

Há um significado mais amplo aqui. O próprio Trump é menos populista trumpiano do que muitos de seus apoiadores do MAGA, inclusive alguns novos funcionários de seu governo. Em várias questões econômicas importantes - impostos, antitruste, inovação e, aparentemente, imigração de alta qualificação -, as opiniões de Trump estão muito mais próximas das dos republicanos tradicionais do que daquelas defendidas pelos nacionalistas-populistas que estão em ascensão em seu movimento político.

A principal questão é simples: Quando a ala MAGA entra em conflito com os conservadores pró-negócios ou com a comunidade tecnológica, quem vencerá? A resposta é incerta. Mas, por enquanto, marque um ponto para os empreendedores de tecnologia - e para a prosperidade de longo prazo dos trabalhadores e das famílias americanas.

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