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Reexaminar a crise da Manchúria

OXFORD – Há noventa anos, no dia 18 de setembro de 1931, um jovem oficial militar japonês detonou um explosivo que tinha sido cuidadosamente colocado numa ferrovia, propriedade dos japoneses, perto da cidade chinesa de Shenyang (então conhecida no Ocidente como Mukden). A explosão causou poucos danos, mas não era essa a questão. Os japoneses culparam os soldados chineses pela explosão, que usaram como pretexto para conquistar Shenyang e ocupar todo o território, conhecido como Manchúria.

Embora a Manchúria fosse um território chinês, controlado por senhores da guerra leais (pelo menos no nome) ao governo nacionalista da China, milhares de soldados japoneses estavam lá colocados ao abrigo dos termos de um tratado anterior. Isso permitiu que as forças japonesas invadissem a área rapidamente. Poucas semanas após o Incidente da Manchúria, controlaram a parte sul da Manchúria, seguindo-se o norte da Manchúria no início de 1932.

Os japoneses alegaram que não foi uma invasão imperial. Em vez disso, foi uma resposta aos pedidos de ajuda do povo da Manchúria, que estava a sofrer às mãos do governo, que agia com punhos de ferro, dos senhores da guerra. O Japão queria apenas ajudar o povo oprimido a estabelecer um estado independente que os libertasse do turbilhão de corrupção que envolvia o resto da China.

O Japão até tinha um nome para esse novo estado: Manchukuo, ou “terra dos Manchus”. Para adicionar brilho à sua ideia, eles recrutaram o mais famoso Manchu – o último imperador da China, Puyi – para liderá-lo. (Após ser destituído em 1912, Puyi ficou disponível para compromissos monárquicos alternativos).

O esforço para criar um estado independente da Manchúria tornou-se uma causa célebre internacional e um teste para a Liga das Nações, a precursora das Nações Unidas com a missão de preservar a paz após a Primeira Guerra Mundial. A Liga enviou uma comissão, liderada pelo diplomata britânico, Lord Lytton , para investigar a situação. A comissão concluiu que o Japão tinha, efetivamente, organizado um golpe.

O Japão não ficou intimidado. Retirou-se da Liga das Nações e manteve o seu estado fantoche da Manchúria até à sua derrota na Segunda Guerra Mundial. Nesse momento, a União Soviética assumiu o comando, ocupando o território durante um ano.

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No entanto, ao mesmo tempo, a longa guerra entre os nacionalistas e os comunistas chineses estava a intensificar-se novamente, com as forças de Mao Zedong a reivindicar cada vez mais território, a começar pelo Nordeste. Na época em que os comunistas estabeleceram a República Popular da China, em 1949, as províncias da Manchúria estavam firmemente sob o seu domínio.

Mas os chineses não esqueceram os 14 anos de ocupação da Manchúria. Na verdade, a doutrina oficial chinesa define o Incidente Manchuriano de 1931 como o início da Segunda Guerra Mundial. E todos os anos, no dia 18 de setembro, as sirenes soam em Shenyang e noutras cidades da região para relembrar não apenas a explosão em si, mas as atrocidades que se seguiram. Isso inclui as horríveis experiências que a Unidade 731 – a unidade de investigação e desenvolvimento do exército japonês para guerra biológica e química – realizou em seres vivos.

O que é que essas memórias significam hoje? Dentro da China, a mensagem é clara: antes da criação da República Popular, o país era fraco e vulnerável à invasão estrangeira. Um importante museu em Shenyang, que conta a história daqueles que morreram a lutar contra a ocupação japonesa, reforça a narrativa de que os líderes nacionalistas da China pouco fizeram para proteger o país da humilhação dos invasores.

Mas embora os líderes da China estejam ansiosos para usar o Incidente da Manchúria para avançar a sua narrativa favorita do passado, eles hesitam em reconhecer os ecos do evento no presente, especialmente no que diz respeito às ações do parceiro militar e estratégico próximo da China, a Rússia. Em 2008, quando a Rússia invadiu a Geórgia, os líderes chineses, talvez silenciosamente furiosos com a distração desde o início dos Jogos Olímpicos daquele ano em Pequim, abstiveram-se de expressar um forte apoio às suas ações (ao contrário de outros aliados do Kremlin, como a Bielorrússia). Mas eles também não recuaram, pedindo apenas que todos os lados permanecessem calmos.

Da mesma forma, em 2014, a China recusou-se a condenar a ocupação e anexação da Crimeia (território no sul da Ucrânia) por parte da Rússia, ou o plebiscito organizado pelo Kremlin, sem controlo de qualquer órgão neutro, que a apoiou. Quando o Conselho de Segurança da ONU ponderou uma resolução condenando o referendo, a China absteve-se.

É claro que a China é conhecida por redefinir as questões territoriais para o seu próprio benefício. Mas, ao contrário da Rússia, a China evitou cruzar descaradamente fronteiras reconhecidas internacionalmente. Sim, é verdade que pressionou fortemente as fronteiras dos Himalaias e do Mar do Sul da China. Mas reservou a sua agressão mais hostil para áreas que estão claramente dentro do seu território, como Hong Kong e a região de Xinjiang, e as suas ameaças mais firmes para apenas um lugar, Taiwan, onde a Guerra Fria deixou algum nível de ambiguidade.

Este é outro legado do Incidente da Manchúria. A violação direta de uma fronteira terrestre internacional continua a ser uma possibilidade incómoda para os chineses.

A recordação da China do Incidente na Manchúria levanta mais uma questão: Como é que os seus líderes atuais pensam que a comunidade internacional deveria ter reagido? Em geral, assumem a posição de que as disputas devem ser resolvidas através do diálogo e da negociação, em vez da ação militar. Desprezam as intervenções americanas, como no Afeganistão. Diante disso, é mais difícil para os líderes da China argumentar que, após o fracasso das tentativas da Liga das Nações de dissuadir o Japão, a comunidade internacional deveria ter tomado uma ação militar mais forte em 1931.

Indubitavelmente, as intervenções dos Estados Unidos no Afeganistão ou no Iraque tiveram a sua própria dinâmica; não eram de forma alguma repetições da invasão japonesa da Manchúria. Mas é impressionante que, para a China, a crise da Manchúria de 1931 continue a ser uma causa tão importante para a memória nacional, mas não produza lições fáceis para reflexão, muito menos analogias óbvias para lidar com os desafios geopolíticos de hoje.

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