CAMBRIDGE – A 14 de Maio de 1962, o comissário do Montana para a agricultura, Lowell Purdy, proferiu aquele que se tornaria um dos grandes chavões do século. “Se conseguimos pôr um homem na Lua”, declarou, sete anos antes de os Estados Unidos terem alcançado o objectivo do presidente John F. Kennedy, “seremos certamente capazes de garantir que a nossa produção agrícola excedentária seja direccionada para muitos estômagos famintos do mundo”.
Desde então, a fórmula tornou-se num cliché, precisamente porque levanta um ponto muito importante. Hoje, por exemplo, podíamos salientar: “se conseguimos produzir vacinas que diminuem drasticamente a transmissão e a gravidade da COVID-19, seremos certamente capazes de acabar com a pandemia”. Porém, não temos sido capazes de fazê-lo até agora, em grande medida porque as pessoas pura e simplesmente recusam ser vacinadas.
Na verdade, em alguns casos (especialmente, nos países de baixos rendimentos) o principal obstáculo à imunização em larga escala tem sido a disponibilidade limitada de vacinas. Mas num país como os EUA o principal problema é a hesitação, e por vezes hostilidade, relativamente às vacinas. Apesar de a Food and Drug Administration ter concedido uma aprovação de emergência a três vacinas (um processo que exige testes rigorosos), muitos estão convencidos de que as mesmas ainda são “experimentais”, e consequentemente inseguras.
Como afirmou Anthony Fauci, o responsável pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas nos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, existem duas Américas, e as suas percepções relativas à vacinação estão separadas por um muro. Para a América que não confia nas vacinas, a experiência de autoridades remotas e a lógica do método científico não são convincentes.
Talvez provas mais tangíveis e extraídas do mundo real consigam mudar essas mentalidades. Não deixam seguramente de acumular-se: dados recentes demonstram uma acentuada correlação negativa entre as taxas de vacinação e as taxas de infecção, internamento ou morte pela COVID-19 por todos os EUA. Na semana terminada a 22 de Junho, os condados onde foram vacinados 30% ou menos dos residentes registaram 5,6 novos casos de COVID por cada 100 000 pessoas, ao passo que os condados onde foram vacinados mais de 60% dos residentes só registaram 2,1 novos casos em cada 100 000 habitantes.
Com base em dados actualizados, um aumento de um ponto percentual na proporção de adultos (e adolescentes) completamente vacinados num condado específico a 9 de Junho estava relacionado com uma diminuição significativa da taxa de mortes por COVID-19 (0,06 por cada 100 000 habitantes) durante os 30 dias seguintes (até 9 de Julho). Isto representa 2% das mortes mensais totais relacionadas com o coronavírus. Podíamos extrapolar destes valores que o efeito estatístico de se atingir uma vacinação a 100% seria fazer com que as mortes relacionadas com a COVID-19 chegassem perto do zero.
At a time when democracy is under threat, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided. Subscribe now and save $50 on a new subscription.
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Contudo, evidentemente, a correlação não comprova a causalidade. Segundo algumas pessoas, o efeito aparentemente benéfico da vacinação pode ser consequência de um factor terceiro, como a pobreza. As pessoas com baixos rendimentos estão em maior risco de ser infectadas pela COVID-19 e de morrer com a doença, devido a uma série de factores, desde as condições de alojamento ao tipo de emprego. Se também for menos provável que sejam vacinados, isso pode criar a ilusão de que o problema reside na falta de imunização. Porém, a beleza da econometria é que podemos controlar factores terceiros, como a taxa de pobreza ou a temperatura local, para isolar estatisticamente o efeito das taxas de vacinação.
Mas isto não soluciona inteiramente a questão da causalidade. Também existe a possibilidade de a correlação simples observada entre vacinação e mortalidade subestimar o verdadeiro impacto das vacinas. Afinal, as pessoas que vivam num contexto de risco elevado (por exemplo, perto de um centro de transportes) têm maior probabilidade de conhecer pessoas que apanharam o coronavírus e, por conseguinte, têm maior probabilidade de serem vacinadas. Esta “causalidade inversa” pode levar a uma aparente correlação positiva (e excessiva) a vacinação e as taxas de mortalidade.
E, com efeito, isso poderia explicar parcialmente a razão pela qual estudos anteriores, alguns realizados no início de Junho, não encontraram qualquer correlação negativa clara. Porém, à medida que a altamente contagiosa variante Delta ganha terreno entre os não-vacinados, a correlação entre a imunização e as menores taxas de infecção e mortalidade devidas à COVID-19 está a reforçar-se.
Mesmo assim, para termos uma hipótese de convencer os cépticos das vacinas, é vital que separemos a causalidade da correlação. A solução reside em olhar para variações nas taxas de vacinação que não tenham qualquer relação com onde e como o coronavírus se propaga – na verdade, que não tenham qualquer relação com o coronavírus. Na linguagem técnica, precisamos de um “instrumento exógeno”.
A filiação partidária ou os padrões eleitorais são uma escolha óbvia. Durante a pandemia, os governadores Republicanos foram menos propensos que os seus homólogos Democratas a apoiar medidas de saúde pública, como a obrigatoriedade de usar máscara. Não surpreende, portanto, que os eleitores Republicanos (45%) tenham uma menor probabilidade de aceitar a vacinação do que os independentes (58%) e os Democratas (73%). Nos condados onde o então presidente Donald Trump ganhou por uma margem de 50 ou mais pontos percentuais nas eleições de 2020, a 17 de Abril a taxa de vacinação era inferior a 25%.
A “diferença partidária” (que continua a aumentar) permanece mesmo depois de se considerarem o rendimento, a raça e a idade, bem como a densidade populacional e as taxas locais de infecções e de mortes. Segundo os meus cálculos, controlando a taxa de pobreza e outras variáveis relevantes (especialmente, a idade e a temperatura), um aumento de um ponto percentual na quota de residentes de um condado acima dos 12 anos que foram completamente vacinados até 9 de Junho está associado a uma taxa de mortalidade 0,05 mais baixa por 100 000 habitantes durante os 30 dias seguintes.
Para garantir que os resultados não são distorcidos pela causalidade inversa, também fiz um outro cálculo, baseado nos mesmos dados. Considerando a variação na decisão de vacinação como sendo apenas atribuível à afinidade político-partidária, e controlando varáveis como a pobreza, concluí que a diferença na taxa de mortalidade por COVID-19 era de 0,04 por 100 000 habitantes.
Usei os padrões de votação não para destacar um grupo particular, mas antes para permitir uma melhor estimativa para a eficácia das vacinas sobre quaisquer pessoas. Mas espero que pelo menos alguns cépticos reparem que os membros do seu “grupo” político estão a morrer em maior número e decidam dar uma hipótese à vacinação. Como observou recentemente Rochelle Walensky, a directora dos Centros para Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, “esta pandemia está a transformar-se numa pandemia dos não-vacinados”.
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No matter how committed Donald Trump and his oligarch cronies are to a tax cut, the laws of arithmetic cannot be repealed. If only a handful of Republican lawmakers keep their promise not to increase the US budget deficit, there is no way that the incoming administration can enact its economic agenda and keep the government running.
points out that no amount of bluster or strong-arming can overcome the laws of arithmetic.
The US president-elect's signature policies will do almost nothing positive for less educated Americans or significantly improve the lives of most others. The rich will get richer, the richest will get a lot richer, and everyone else will contend with higher inflation, cuts to public services, and the effects of runaway deregulation.
explains why reality is unlikely to come close to matching the US president-elect's rhetoric.
CAMBRIDGE – A 14 de Maio de 1962, o comissário do Montana para a agricultura, Lowell Purdy, proferiu aquele que se tornaria um dos grandes chavões do século. “Se conseguimos pôr um homem na Lua”, declarou, sete anos antes de os Estados Unidos terem alcançado o objectivo do presidente John F. Kennedy, “seremos certamente capazes de garantir que a nossa produção agrícola excedentária seja direccionada para muitos estômagos famintos do mundo”.
Desde então, a fórmula tornou-se num cliché, precisamente porque levanta um ponto muito importante. Hoje, por exemplo, podíamos salientar: “se conseguimos produzir vacinas que diminuem drasticamente a transmissão e a gravidade da COVID-19, seremos certamente capazes de acabar com a pandemia”. Porém, não temos sido capazes de fazê-lo até agora, em grande medida porque as pessoas pura e simplesmente recusam ser vacinadas.
Na verdade, em alguns casos (especialmente, nos países de baixos rendimentos) o principal obstáculo à imunização em larga escala tem sido a disponibilidade limitada de vacinas. Mas num país como os EUA o principal problema é a hesitação, e por vezes hostilidade, relativamente às vacinas. Apesar de a Food and Drug Administration ter concedido uma aprovação de emergência a três vacinas (um processo que exige testes rigorosos), muitos estão convencidos de que as mesmas ainda são “experimentais”, e consequentemente inseguras.
Como afirmou Anthony Fauci, o responsável pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas nos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, existem duas Américas, e as suas percepções relativas à vacinação estão separadas por um muro. Para a América que não confia nas vacinas, a experiência de autoridades remotas e a lógica do método científico não são convincentes.
Talvez provas mais tangíveis e extraídas do mundo real consigam mudar essas mentalidades. Não deixam seguramente de acumular-se: dados recentes demonstram uma acentuada correlação negativa entre as taxas de vacinação e as taxas de infecção, internamento ou morte pela COVID-19 por todos os EUA. Na semana terminada a 22 de Junho, os condados onde foram vacinados 30% ou menos dos residentes registaram 5,6 novos casos de COVID por cada 100 000 pessoas, ao passo que os condados onde foram vacinados mais de 60% dos residentes só registaram 2,1 novos casos em cada 100 000 habitantes.
Com base em dados actualizados, um aumento de um ponto percentual na proporção de adultos (e adolescentes) completamente vacinados num condado específico a 9 de Junho estava relacionado com uma diminuição significativa da taxa de mortes por COVID-19 (0,06 por cada 100 000 habitantes) durante os 30 dias seguintes (até 9 de Julho). Isto representa 2% das mortes mensais totais relacionadas com o coronavírus. Podíamos extrapolar destes valores que o efeito estatístico de se atingir uma vacinação a 100% seria fazer com que as mortes relacionadas com a COVID-19 chegassem perto do zero.
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Mas isto não soluciona inteiramente a questão da causalidade. Também existe a possibilidade de a correlação simples observada entre vacinação e mortalidade subestimar o verdadeiro impacto das vacinas. Afinal, as pessoas que vivam num contexto de risco elevado (por exemplo, perto de um centro de transportes) têm maior probabilidade de conhecer pessoas que apanharam o coronavírus e, por conseguinte, têm maior probabilidade de serem vacinadas. Esta “causalidade inversa” pode levar a uma aparente correlação positiva (e excessiva) a vacinação e as taxas de mortalidade.
E, com efeito, isso poderia explicar parcialmente a razão pela qual estudos anteriores, alguns realizados no início de Junho, não encontraram qualquer correlação negativa clara. Porém, à medida que a altamente contagiosa variante Delta ganha terreno entre os não-vacinados, a correlação entre a imunização e as menores taxas de infecção e mortalidade devidas à COVID-19 está a reforçar-se.
Mesmo assim, para termos uma hipótese de convencer os cépticos das vacinas, é vital que separemos a causalidade da correlação. A solução reside em olhar para variações nas taxas de vacinação que não tenham qualquer relação com onde e como o coronavírus se propaga – na verdade, que não tenham qualquer relação com o coronavírus. Na linguagem técnica, precisamos de um “instrumento exógeno”.
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A “diferença partidária” (que continua a aumentar) permanece mesmo depois de se considerarem o rendimento, a raça e a idade, bem como a densidade populacional e as taxas locais de infecções e de mortes. Segundo os meus cálculos, controlando a taxa de pobreza e outras variáveis relevantes (especialmente, a idade e a temperatura), um aumento de um ponto percentual na quota de residentes de um condado acima dos 12 anos que foram completamente vacinados até 9 de Junho está associado a uma taxa de mortalidade 0,05 mais baixa por 100 000 habitantes durante os 30 dias seguintes.
Para garantir que os resultados não são distorcidos pela causalidade inversa, também fiz um outro cálculo, baseado nos mesmos dados. Considerando a variação na decisão de vacinação como sendo apenas atribuível à afinidade político-partidária, e controlando varáveis como a pobreza, concluí que a diferença na taxa de mortalidade por COVID-19 era de 0,04 por 100 000 habitantes.
Usei os padrões de votação não para destacar um grupo particular, mas antes para permitir uma melhor estimativa para a eficácia das vacinas sobre quaisquer pessoas. Mas espero que pelo menos alguns cépticos reparem que os membros do seu “grupo” político estão a morrer em maior número e decidam dar uma hipótese à vacinação. Como observou recentemente Rochelle Walensky, a directora dos Centros para Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, “esta pandemia está a transformar-se numa pandemia dos não-vacinados”.