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A ajuda à Ucrânia não deve ser à custa de África

WASHINGTON, DC – A invasão da Ucrânia por parte da Rússia gerou enormes custos. A maioria foi suportada pelos corajosos cidadãos ucranianos e pelos infelizes soldados russos obrigados a lutar. Mas o mundo inteiro sofreu danos colaterais significativos: novos aumentos nos custos de energia e nos preços dos alimentos, e uma possível recessão global.

Esses danos indiretos afetaram mais, sem sombra de dúvida, aqueles que já estão à beira da pobreza, particularmente em África. O índice de preços de alimentos produzido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura atingiu um aumento histórico em março e os preços dos fertilizantes também subiram. Os esforços dos governantes nacionais para melhorarem a segurança alimentar interna, como a recente proibição às exportações de trigo, por parte da Índia, pioraram a situação. As ondas de choque da guerra ameaçam prejudicar não apenas a produção a curto prazo, mas também as colheitas futuras após o fim dos combates na Ucrânia. Milhões de africanos poderão, assim, enfrentar em breve a pobreza, a fome ou ambas.

Mas uma potencial consequência negativa do conflito pode e tem de ser contida: a tentação dos governantes dos países ricos de redirecionarem a ajuda ao desenvolvimento de África para a Ucrânia. Isso aconteceu em 2014, quando a anexação da Crimeia por parte da Rússia desviou recursos de África – embora a região estivesse à beira de uma recessão impulsionada pelos preços dos produtos.

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